sexta-feira, 19 de agosto de 2011


O que fazer quando a saudade é tanta que chega a doer?

  
  Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
   Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá    , não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. 

ESTE LIVRO


Meu filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do
coração. É prosa que dá prêmio. Um tea for two
total, tilintar de verdade que você seduz, charmeur
volante, pela pista, a toda. Enfie a carapuça.
E cante.
Puro açúcar branco e blue.

Ana Cristina César. 


treze de outubro - Angelica Freitas


escrever um poema sem calor em são paulo

um poema sem ação: sem carros, sem avenida paulista

quando eu morava na augusta, escrevia poemas sobre a augusta

a augusta não me deixava dormir

(escrever um poema em que se durma na augusta

e sobretudo, escrever um poema sobre dormir

sem você.)
esta é a primavera fajuta da delicadeza

(não consigo terminar este poema).

segunda-feira, 11 de julho de 2011


"Como aqueles casais que soltam as mãos pra vencer divididos o poste de luz na rua, eu pensei que seria mais fácil me desvencilhar de você antes do primeiro obstáculo. Que, ok, havíamos nos encontrado por acaso, cruzado olhares guardados, mas nada que me atasse à você além de um laço bem feito, bonito, desses de presente, mas frágil, que se desfaz com um singelo puxão, e que se eu resolvesse rebentá-lo, seria isso e pronto."

Gabito Nunes

sábado, 2 de julho de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros.


 Cora Coralina


"Às vezes eu acho que alugar uma apartamento cheio de posteres de cinema, almofadas coloridas e festinhas com amigos bacanas e músicas boas resolveria o meu problema. Me entupiria do meu mundo a ponto de eu parar de sentir falta de mim."

Tati Bernardi

domingo, 12 de junho de 2011

sábado, 11 de junho de 2011


"... E então eu me pergunto se não deveria lobotomizar meu cérebro pra pensar menos, lobotomizar meu coração pra sentir menos, lobotomizar meu espírito pra estar agora menos obcecada pelo seu joelho magrelo. E então eu falaria pouco, teria alguma profissão sonsa dessas que a pessoa fica em cima de apostilas na madrugada ao invés de estar abaixo das estrelas."
 Tati Bernardi.
- Porque eu tinha medo de te perder.
- E agora você não tem mais?
- Faz um tempo que perdi.
- O medo?
- Não, você.

(silêncio)


caio fernando.

"A vida real é chata, sem graça, burocrática, injusta e não gosta muito de comédias românticas." (Gabito Nunes)

Só que não pode ser assim. Não pode e não deve.


"Só o apaixonado por você tem a sagacidade de notar em você o que ninguém notou, fazendo enfim o elogio que nenhum professor lhe fez, a gentileza que nenhum cavalheiro lhe fez, a gracinha que nenhum canalha lhe fez. A paixão alerta sua razão que, ora, você é amado, e amado tanto assim. Então sou o homem mais sortudo do mundo. Porque essa menina rara, de pele tão branca e sardenta, ama-me careca. Um sentimento desses, está claro, pode mudar todas as pedras de lugar. 
Por isso tem tanta gente que não ama, nem é amado. São os que não aguentam levantar a tampa que os protege do incerto, e mudar.
Portanto, quem é que não ama, não se apaixona, não odeia? Os covardes? Com certeza. Os covardes, entretanto, sábios. Naquele conceito de sabedoria que mata você de velho. E morrer de velho, convenhamos, é a coisa mais humilhante do mundo." Fernanda Young

domingo, 22 de maio de 2011


“Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.”
                                                              
(Chico Buarque - Trocando em Miúdos)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

"No cinema, a felicidade sempre fica pro fim, o que é uma contradição muito chata. Se é feliz, não é final." - Gabito Nunes.

Vamos voltar com Caio Fernando Abreu?



 “Ele pode estar olhando tuas fotos neste exato momento. Por que não? Passou-se muito tempo, detalhes se perderam. E daí? Pode ser que ele faça as mesmas coisas que você faz escondida, sem deixar rastro nem pistas. Talvez, ele passa a mão na barba mal feita e sinta saudade do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram teus, na tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos os dias. E, ainda assim, preferir o silêncio. Ele pode reler teus bilhetes, procurar o teu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as tuas músicas, procurar a tua voz em outras vozes. Quem nos faz falta, acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape. Talvez, ele perceba que você faz falta e diferença, de alguma forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem passará aquele tão sonhado verão em Paris. Talvez, ele volte. Ou não.”
(Caio Fernando Abreu)

Senti saudades daqui.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"A lot can happen in 12 months, John... Tonight you're here with me."


O Acorde de Blues vai passar por umas mudanças, devo ficar uns dias sem postar... tudo que fica igual por muito tempo, acaba cansando, né? A graça da vida é (re)inventar.

“Homem verdadeiro desafina na cantada, cafajeste é que usa playback.” - Fabrício Carpinejar.


"...E decidiu: vou viajar. Porque não morri, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vi, como um danado, quero ver feito Pessoa, que também morreu sem encontrar. Maldito e solitário, decidiu ousado: vou viajar."


Caio F.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O último milagre da Penha.

É verão. Vinicius de Moraes me agrada muito nas crônicas que escreve. Crônicas normalmente são fatos do cotidiano escritos como se fosse poesia. E as do Vinicius são sempre cheias disso: poesia. Poesia sobre o cotidiano carioca, daquela época que o Rio de janeiro não continuava lindo, ele simplesmente era.


Batizado na Penha
Eu sou um sujeito que, modéstia à parte, sempre deu sorte aos outros (viva, minha avozinha diria: "Meu filho, enquanto você viver não faltará quem o elogie..."). Menina que me namorava casava logo. Amigo que estudava comigo, acabava primeiro da turma. Sem embargo, há duas coisas com relação às quais sinto que exerço um certo pré-frio: viagem de avião e esse negócio de ser padrinho. No primeiro caso o assunto pode ser considerado controverso, de vez que, num terrível desastre de avião que tive, saí perfeitamento ileso, e numa pane subsequente, em companhia de Alex Viany, Luís Alípio de Barros e Alberto Cavalcanti, nosso Beechraft, enguiçado em seus dois únicos motores, conseguiu no entanto pegar um campinho interditado em Canavieiras, na Bahia, onde pousou galhardamente, para gaúdio de todos, exceto Cavalcanti, que dormia como um justo.
Mas no segundo caso é batata. Afilhado meu morre em boas condições, em período que varia de um mês a dois anos. Embora não seja supersticioso, o meu coeficiente de afilhados mortos é meio velhaco, o que me faz hoje em dia declinar delicadamente da honra, quando se apresenta o caso. O que me faz pensar naquela vez em que fui batizar meu último afilhado na Igreja da Penha, há coisa de uns vinte anos.
Éramos umas cinco ou seis pessoas, todos parentes, e subimos em boa forma os trezentos e não sei mais quantos degraus da igrejinha, eu meio céptico com relação à minha nova investidura, mas no fundo tentando me convencer de que a morte de meus dois afilhados anteriores fora mera obra do acaso. Conosco ia Leonor, uma pretinha de uns cinco anos, cria da casa de meus avós paternos.
Leonor era como um brinquedo para nós da família. Pintávamos com ela e a adorávamos, pois era danada de bonitinha, com as trancinhas espetadas e os dentinhos muito brancos no rosto feliz. Para mim Leonor exercia uma função que considero básica e pela qual lhe pagava quatrocentos réis, dos grandes, de cada vez: coçar-me as costas e os pés. Sim, para mim cosquinha nas costas e nos pés vem praticamente em terceiro lugar, logo depois dos prazeres da boa mesa; e se algum dia me virem atropelado na rua, sofrendo dores, que haja uma alma para me coçar os pés e eu morrerei contente.
Mas voltando à Penha: uma vez findo o batizado, saímos para o sol claro e nos dispusemos a efetuar a longa descida de volta. A Penha, como é sabido, tem uma extensa e suave rampa de degraus curtos que cobrem a maior parte do trajeto, ao fim da qual segue-se um lance abrupto. Vinhamos com cuidado ao lado do pai com a criança ao colo, o olho baixo para evitar alguma queda. Mas não Leonor! Leonor vinha brincando como um diabrete que era, pulando os degraus de dois em dois, a fazer travessuras contra as quais nós inutilmente a advertimos.
Foi dito e feito. Com a brincadeira de pular os degraus de dois em dois, Leonor ganhou momentum e quando se viu ela os estava pulando de três em três, de quatro em quatro e de cinco em cinco. E lá se foi a pretinha Penha abaixo, os braços em pânico, lutando para manter o equilibrio e a gritar como uma possessa.
Nós nos deixamos estar, brancos. Ela ia morrer, não tinha dúvida. Se rolasse, ira ser um trambolhão só por ali abaixo até o lance abrupto, e pronto. Se conseguisse se manter, o mínimo que lhe poderia acontecer seria levantar vôo quando chegasse ao tal lance, considerada a velocidade em que descia. E lá ia ela, seus gritos se distanciando mais e mais, os bracinhos se agitando no ar, em sua incontrolável carreira pela longa rampa luminosa.
Salvou-a um herói que quase no fim do primeiro lance pôs-se em sua frente, rolando um para cada lado. Não houve senão pequenas escoriações. Nós a sacudíamos muito, para tirá-la do trauma nervoso em que a deixara o tremendo susto passado. De pretinha, Leonor ficava cinzenta. Seus dentinhos batiam incrivelmente e seus olhos pareciam duas bolas brancas no negro do rosto. Quando conseguiu falar, a única coisa que sabia repetir era: "Virge Nossa Senhora! Virge Nossa Senhora!"
Foi o último milagre da Penha de que tive notícia.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Um novo começo de era!


Na mesa, os livros oferecem consolo. Vontade de ler um troço decente. Mas é preciso passar por uma porção de besteiras até chegar ao que interessa. Vontade de ter um pensamento bem profundo, desses que fazem a gente se surpreender que tenham saído da nossa cabeça mesmo, naquela modéstia que só se tem quando se está distraído - desses pensamentos que nas revistas em quadrinhos aparecem em forma de lâmpada sobre a cabeça do cara. Mas o quê? Sobre a vida, um combate que aos fracos abate e aos fortes e aos bravos só pode exaltar? Sobre o amor, que é isso que você está vendo hoje beija amanhã não beija depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será? (…)

Caio Fernando Abreu


Hey, alguém ai interessado em ganhar um livro do Italo Calvino?