terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Dois mil e onze!

Será que só eu não tô acreditando que já é quase 2011? Pois é. Muita saúde, paz e amor. É só isso que a gente precisa.
Aqui vai um dos meus textos favoritos da Martha Medeiros que é perfeito para finais de ano. Até ano que vem. :)


Desejo que desejes

         Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido, desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa, desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados. 

         Mas desejo também que desejes com audácia, que desejes uns sonhos descabidos e que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração, mas os mantenha acesos, livres de frustração, desejes com fantasia e atrevimento, estando alerta para as casualidades e os milagres, para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.
         Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras, que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe e desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer e que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro, eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.
         Mas desejo também que desejes uma alegria incontida, que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos, basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar, que desejes o bar tanto quanto a igreja,  mas que o desejo pelo encontro seja sincero, que desejes escutar as histórias dos outros, que desejes acreditar nelas e desacreditar também, faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas, que desejes não ter tantos desejos concretos, que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas.
         Desejo que desejes alguma mudança, uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma, mudanças são temidas, mas não há outro combustível pra essa travessia. Desejo que desejes um ano inteiro de muitos meses bem fechados, que nada fique por fazer, e desejo, principalmente, que desejes desejar, que te permitas desejar, pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente, não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances, diagnósticos favoráveis, aplausos, mais dinheiro e sentimentos vários, mas desejo antes de tudo que desejes, simplesmente.
Martha Medeiros


Você tem 365 dias para fazer seu 2011 valer a pena.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz natal!


... me consola, moço. Fala uma frase, feita com o meu nome, para que ardam os crisântemos e eu tenha um feliz natal.
Adélia Prado

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

E eu era.


“E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era”
 Caio Fernando Abreu 
-
E na luz nua eu vi
Dez mil pessoas talvez mais
Pessoas conversando sem falar
Pessoas ouvindo sem escutar
Pessoas escrevendo canções que vozes jamais compartilharam
Ninguém ousou
Perturbar o som do silêncio
The Sound of Silence - Simon & Garfunkel

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

“Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio.” (Caio Fernando Abreu)


"Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena."
 
Rubem Alves

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!

Cecília Meireles

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Se a relação não tem saída, daí mesmo é que aproveito para ficar. (Carpinejar)



“O que tenho, nesse instante, é um sabor inédito de beijo, um novo número de celular para adicionar na minha agenda, uma cor de olhos que não sei definir com precisão, um corpo que se encaixa no meu e uma conversa que me mantém fascinada.”
 Martha Medeiros

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010


Passei a ocupar meus dias pensando sobre o que, afinal, é isso que todo mundo enche a boca pra chamar de amor, como se fosse algo simplificado: defina em meia dúzia de frases, é fácil, querida. É fácil? Pois a querida não entende como uma palavrinha simples formada por apenas duas vogais e duas consoantes pode absorver um universo de sensações contraditórias, diabólicas, insensatas, incandescentes e intraduzíveis. O que é amor?

Martha Medeiros
-
Um cinema velho, antigo, nós dois assistindo algum filme com Marilyn Monroe sorrindo o tempo todo. Você a acha linda. Depois a gente vai dar uma volta na praça, sentir aquele cheiro de pipoca nas esquinas e vou te comprar um saquinho – sem queijo, claro. A lua e as estrelas tão nítidas, afinal, a cidade tem poucos prédios e tudo que nós precisamos é isso: uma praça onde as crianças brincam na fonte, onde os velhinhos jogam pipoca pros pombos, onde namorados passeiam de mãos dadas pra se mostrarem - e um cinema. E olha ai, já já vão ser dez da noite e você tem que voltar pra casa, não tem? Boa moça tá em casa antes das dez. Por mim tudo bem, te levo até o carro, abro a porta pra você que entra com uma careta, achando que eu exagero nessas coisas, mas só o que quero é me exibir pra você. Gosto tanto de você, garota. Peguei esse Ford 1934 emprestado do meu primo, devo um dinheirão pra ele agora, só pra você me achar legal e sair mais uma vez comigo e eu ter mais uma chance pra te conquistar. Dou a volta pra entrar no carro, mas antes de abrir a porta você fecha o pino por dentro e fica mostrando a língua pra mim pelo vidro – já notou a covinha que forma quando você faz isso? – enquanto eu só sorrio pra você.

Pra mim, amor pode até não ser isso, mas pra ser amor, tem que ter, principalmente, isso aí: simplicidade.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010



"-Você sabia, Ana? Algumas estrelas são leves assim como o ar, a gente pode carrega-las numa maleta. Uma bagagem de estrelas. Já pensou no espanto do homem que fosse roubar essa maleta? Ficaria para sempre com as mãos cintilantes, mas tão cintilantes que não poderia mais tirar as luvas."


"Abro a janela e sinto na cara o ar gelado da noite. A lua, não, a lua já tinha sido quase tocada, talvez nesse instante mesmo em que a olhava algum abelhudo já rondava por lá. Solidão era solidão de estrela."


Lygia Fagundes Telles



"Pleno inverno gelado, agosto e madrugada na esquina da loja funerária eles navegam entre punks, mendigos, neons, prostitutas e gemidos de sintetizador eletrônico - sons, algas, águas - soltos no espaço que separa o bar maldito das trevas do par que na cidade que não é nem será mais a de um deles. Porque as cidades, como as pessoas ocasionais e os apartamentos alugados, foram feitas para serem abandonadas - reflete, enquanto navega.
(...)
Então o rapaz se vai, porque tem outros caminhos, O homem fica, porque tem outros caminhos. Ele acompanha o vulto do rapaz que se vai, exatamente com o mesmo olhar com que acompanho o vulto desse homem parado por um instante à porta do bar. E não ficará, porque esta cidade não é mais a dele. O rapaz sim, ficará, porque é nesta mesma cidade que deve escolher essa coisa vaga - um caminho, um destino, uma história com agá -, se é que se escolhe alguma coisa, para depois matá-la, essa coisa vaga futura, quando for passado, se é que se mata alguma coisa."


O Rapaz Mais Triste do Mundo - Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010


"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda."

33 anos sem Clarice. 


Images of broken light which dance before me like a million eyes, they call me on and on across the universe. Thoughts meander like a restless wind inside a letter box, they tumble blindly as they make their way ACROSS THE UNIVERSE!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

07/12



No fundo, a gente não é muito diferente do vizinho que gosta de ouvir música sertaneja de madrugada ou do padeiro que acorda às 4 da manhã todos os dias pra começar o trabalho. Todo mundo tem um lado bom e outro ruim, uma alegria e uma tristeza na vida. Depende o que a gente escolhe ser – porque a vida é mesmo lotada de escolhas.
Eu costumava não acreditar em destino. Achava que a gente era maior do que uma história pré-contada, mas agora não tenho tanta certeza disso. Talvez, os caminhos estejam mais ou menos traçados, sei lá. O fato é que as coisas realmente  acontecem na hora e do jeito que devem acontecer.
Fiz 18 anos. Aquela alegria que todo aniversário trás eu ainda não troco por nada. Não acredito que aniversário seja sinônimo de metamorfose, mas é sempre a chance de se zerar por dentro. De recomeçar. Nunca fui de dramatizar as coisas, sempre fui altruísta (e bobo) demais pra isso e pensava: tem coisa pior. Tem não. A gente tem mais é que curtir uma boa duma fossa às vezes, só assim pra dar valor praquele céu azul de um domingo qualquer, pro sorriso que você recebe de uma pessoa na rua, só assim pra respirar e saber que só o fato de estar vivo já é pra ser comemorado.
Olhando pra trás eu até me decepciono pelo tanto comum que eu sou. Por isso olhar pra frente e encontrar um futuro incerto é muito melhor. Que venham mais chateações, festas, sorrisos, filmes, porres, shows, amigos, pores do sol, nuvens desenhadas e o que tiver que vir! Se eu aprendi uma coisa nessas quase duas décadas é que os detalhes da vida não são importantes. Detalhes são restos, e como disse Caio Fernando Abreu: ninguém nunca precisou de restos pra ser feliz.

ps. desculpem o post que não tem nada a ver com o blog. só tava precisando disso tudo. :)

sábado, 4 de dezembro de 2010

Saudade é uma palavra portuguesa e galega para um sentimento de espera nostálgica por alguma coisa ou alguém que foi amado e depois se perdeu. Geralmente carrega um tom fatalista e um conhecimento repreendido de que o objeto de espera pode nunca retornar. Uma vez foi descrevida como "o amor que permanece" ou "o amor que fica" depois que alguém se foi.

Isso é lindo.  

ps. desculpem qualquer erro na tradução. haha

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Então eu vou com você.


Devia ser sábado, passava da meia-noite.
Ele sorriu para mim. E perguntou:
- Você vai para a Liberdade?
- Não, eu vou para o Paraíso.
Ele sentou-se ao meu lado. E disse.
- Então eu vou com você.

Poisé, Caio F.!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Se a história é de amor não pode acabar mal.


"(...)Aconselho a quem não tem tempo: apaixone-se. Perca a cabeça na guilhotina. Entregue seus pés para a espuma. Permita a cintura subir como um chafariz. Não pense que vai dar errado. O que pode dar errado já aconteceu antes. Dentro do tempo."

Fabrício Carpinejar


48 min. do segundo tempo: 2010.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010


Ninety miles outside Chicago. Can't stop driving, I don't know why. So many questions, I need an answer. Two years later you're still on my mind. Whatever happened to Amelia Earhart? Who holds the stars up in the sky? Is true love just once in a lifetime? Did the captain of the Titanic cry?
 
Someday We'll Know, why Samson loved Delilah. One Day I'll go, dancin on the moon. Someday you'll know that I was the one for you.

I bought a ticket to the end of the rainbow. I watch the stars crash into the sea. If I could ask God just one question...Why aren't you here with me tonight?
Someday We'll Know – Switchfoot

PS. Não gosto muito de postar trechos em inglês, mas a letra dessa música é uma das mais bonitas que conheço. Por isso, acho que vale a pena. 

Vezenquando baixa uma saudade, quase sempre clara como tem sido o ar verde-azulado deste verão.


"(...) Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar. Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular."

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Simplesmente, você virou saudade.


E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma hora da madrugada em desespero. Eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei.
Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação.
Simplesmente, eu sou eu, você é você.É livre, é vasto, vai durar.
Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida mas, por enquanto, olha pra mim, e me ama. Não: tu olhas pra ti e te amas. É o que está certo.
Clarice Lispector

More sex, more goodbye's
I love you and I won't let myself let you go
Some things last forever, why can't this last forever

(Yesterday Never Tomorrow - The Stills)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


"E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo. No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que o amor não começa quando o nojo, higiene ou qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também." 

Caio Fernando Abreu 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

"Fico pensando se essa coisa enorme que eu sinto está dentro de mim ou dentro do poço seco." (Hilda Hilst)


Adoro isso
as cigarras cantam
dia sim
dia não
o ócio fragmentado
os japoneses
Poemas em papéis rasgados
O medo do ridículo
que nem todos têm
dividir a vida com alguém
& ainda assim
imaginar coisas.

1986
-
and you turn over
to your left side
to get the sun
on your back
and out
of your eyes.

Charles Bukowski

sábado, 13 de novembro de 2010

"Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz."



Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"

Rubem Alves

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


"Vem cá, homem, repara se já viu o céu mais estrelado e mais bonito que este! Para isto vale nascer."

Adélia Prado

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

“O que a gente faz depois que é feliz?” Clarice Lispector



(Dizem que a Primavera chega trocando a roupa da paisagem). E no auge da sua descrença o dia amanheceu de novo. Quando não queria mais fugir de si mesma, foi surpreendida por uma voz de timbre limpo, olhos atenciosos e mãos que diziam coisas. Era alguém que tranqüilizava quando apenas sorria. Uma pessoa que trazia em si o amparo de tudo. Tinha o dom da conveniência e da clareza e pronunciava reciprocidade.

O fato resumindo é que o amor não era mais aquele estardalhaço. O amor era suave e tinha um jeito de penetrar sem invadir, de libertar no abraço. O amor não era mais aquela insônia, mas sonho bom na entrega ao desconhecido. O amor não era mais a iminência de um conflito, mas uma confiança na vida. E, pela primeira vez, o amor não carregava resquícios de abandono, pois havia descoberto: o amor estava ali porque ambos estavam prontos.
(O Tempo estava certo.)

Uma nova estação - Marla de Queiroz



Pois é, novembro.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

“Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: dar voltas.” José Saramago


- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que...- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o 
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Lygia Fagundes Telles
-
"Tenho a mão estendida para abrir a porta, chamar o elevador. Descer, partir, viver."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Gente fina é que tinha que virar tendência.



Um novo começo de era, com gente fina, elegante e sincera. O que mais se pode querer? Gente fina não esnoba, não humilha, não trapaceia, não compete e, como o próprio nome diz, não engrossa. Não veio ao mundo pra colocar areia no projeto dos outros. Ela não pesa, mesmo sendo gorda, e não é leviana, mesmo sendo magra. Gente fina é que tinha que virar tendência. Porque, colocando na balança, é quem faz a diferença. 


Martha Medeiros

sábado, 30 de outubro de 2010

"A noite - enorme, tudo dorme, menos teu nome." Paulo Leminski



"Fico tentado a lhe dizer muitas coisas, todas elas inúteis, começando por lhe recomendar um analista. Ela se antecipa.
- Espero que você tenha o bom gosto de não me sugerir uma terapia.
- E eu espero que você tenha o bom gosto de não se suicidar.
Luísa ri. Ela só comete suicídio em pequenas doses cotidianas.
- Em algumas fases mais, outras menos. Comecei a me matar aos 17 anos e não parei até hoje".

Maria Adelaide Amaral

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

”E, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito, do jeito talvez torto que sei fazer”



Li uma vez que você vive não sei quantas mil horas e pode resumir tudo de bom em apenas cinco minutos. O resto é apenas o dia-a-dia. Um olhar, uma lágrima que cai, um abraço… Isso é muito pouco na vida. Então, isso vale mais que tudo para mim.
Cazuza

-
- Em vez de tentar tirar os pensamentos da sua mente na marra, arrume alguma coisa melhor para sua mente brincar. Alguma coisa mais saudável.
- Tipo o quê?
- Tipo amor, Sacolão. Puro e divino amor.
Elizabeth Gilbert

domingo, 24 de outubro de 2010

"Anúncio: troco dois pés em bom estado de conservação por um par de asas bem voadas." Amando Nogueira


- Só sei que nós nos amamos muito...
- Por que você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
- Não, eu falei no passado!
- Curioso né? É a mesma conjugação.
Que língua doida! Quer dizer que nós estamos condenados a amar para sempre?
- E não é o que acontece? Digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações...
- Pensar assim me assusta.
- Por que? Você acha isso ruim?
- É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais...
- Você usou o verbo 'doer' ou 'doar'?
- [Pausa] Pois é, também dá no mesmo...

Gian Fabra

Que essa última semana de outubro seja doce pra todos vocês.

PS. "The best things in life aren’t things."

sábado, 23 de outubro de 2010

"Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito." Manoel de Barros


Porque aprendi , que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o vôo...

Caio Fernando Abreu

-
... Porque nós somos grandes: a vida é que ficou pequena demais.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

“Queria e quero - ainda. Voar junto com alguém, não sozinha.” Clarice Lispector



Virava pra lá, e pra cá na cama, estava impaciente, até me senti no escuro, pensei: Não era uma posição o que eu procurava. Era você.
 Caio Fernando Abreu

terça-feira, 19 de outubro de 2010

“Só olhar para ele, sentar ao lado, ouvir a voz, faz tudo ficar mais feliz. Algumas pessoas simplesmente valem a pena.” Tati Bernardi




“Não gosto quando não prestam atenção no que digo. Acho que soa descaso. Também acho que é uma espécie de descaso saber que alguma coisa vai errada e fingir que tudo está perfeitamente em ordem. Costumo falar o que sinto. É claro que quando a gente fala acaba ouvindo. Mas as pessoas precisam se colocar nos dois lados da história. Atualmente, todo mundo só olha para si mesmo. Cadê o outro? Cadê?
Clarissa Corrêa

domingo, 17 de outubro de 2010

Dum romantismo não pós, mas pré todas as coisas - um romantismo que exige sexualidade e amor juntos.


Uma das mais saborosas sensações de liberdade que eu conheço é flagrar meu coração feliz sem precisar de nenhum motivo aparente. De vez em quando, a mente, que tantas vezes mente, me permite lembrar que essa felicidade essencial está o tempo todo disponível, preservada, por trás das nuvens que a negatividade infla.
Rio e me sinto mar.


Ana Jácomo

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"E no entanto, refaço minhas asas cada dia. E no entanto, invento amor como as crianças inventam alegria." Hilda Hilst



"Não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade. Não só suportar o que é necessário, mas amá-lo. É esse meu único desejo. Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas - assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coisas. “Amor fati”, amor ao destino, seja este, doravante, o meu amor. Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja ‘desviar o olhar’! E tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz sim."

Nietzsche
  

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"(...) Em que espelho teu, sou eu que vou estar?" Caetano Veloso



Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego.

João Guimarães Rosa

-
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo. 



Adélia Prado

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pra gente voltar a ser criança.



“Sei que todos, algum dia, acordamos com a senhora desilusão sentada na beira da cama. Mas a gente vai à luta e inventa um novo sonho, uma esperança, mesmo recauchutada: vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso."

Lya Luft

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"Clara manhã, obrigado, o essencial é viver" Carlos Drummond de Andrade


...E decidiu: vou viajar. Porque não morri, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vi, como um danado, quero ver feito Pessoa, que também morreu sem encontrar. Maldito e solitário, decidiu ousado: vou viajar. (Caio F.)
-
Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar
Ana e o mar... mar e Ana
Histórias que nos contam na cama
Antes da gente dormir
(Ana e o Mar - O Teatro Mágico)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues!


"Ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito. É tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagall que Van Gogh, mais Jarmusch que Win Wenders... mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues."

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Que se possa sonhar, isso é que conta.



Quando eu lhe dizia:
"Eu me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada."
Você sorriu e disse:
"Eu gosto de você também." (Legião Urbana)

"Não me lembro mais qual foi nosso começo.
Sei que não começamos pelo começo.
Já era amor antes de ser." (Clarice Lispector)


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

''Lembra o tempo que você sentia, e sentir era a forma mais sábia de saber, e você nem sabia?'' Alice Ruiz



É preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas da vida. A música. Este céu que nem promete chuva. Aquela estrelinha nascendo ali... está vendo aquela estrelinha? Há milênios não tem feito nada, não guiou os reis magos, nem os pastores, nem os marinheiros perdidos... apenas brilha. Ninguém repara nela porque é uma estrela inútil. Pois é preciso amar o inútil porque no inútil está a beleza. No inútil também está Deus.


Lygia Fagundes Telles