segunda-feira, 13 de dezembro de 2010


Passei a ocupar meus dias pensando sobre o que, afinal, é isso que todo mundo enche a boca pra chamar de amor, como se fosse algo simplificado: defina em meia dúzia de frases, é fácil, querida. É fácil? Pois a querida não entende como uma palavrinha simples formada por apenas duas vogais e duas consoantes pode absorver um universo de sensações contraditórias, diabólicas, insensatas, incandescentes e intraduzíveis. O que é amor?

Martha Medeiros
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Um cinema velho, antigo, nós dois assistindo algum filme com Marilyn Monroe sorrindo o tempo todo. Você a acha linda. Depois a gente vai dar uma volta na praça, sentir aquele cheiro de pipoca nas esquinas e vou te comprar um saquinho – sem queijo, claro. A lua e as estrelas tão nítidas, afinal, a cidade tem poucos prédios e tudo que nós precisamos é isso: uma praça onde as crianças brincam na fonte, onde os velhinhos jogam pipoca pros pombos, onde namorados passeiam de mãos dadas pra se mostrarem - e um cinema. E olha ai, já já vão ser dez da noite e você tem que voltar pra casa, não tem? Boa moça tá em casa antes das dez. Por mim tudo bem, te levo até o carro, abro a porta pra você que entra com uma careta, achando que eu exagero nessas coisas, mas só o que quero é me exibir pra você. Gosto tanto de você, garota. Peguei esse Ford 1934 emprestado do meu primo, devo um dinheirão pra ele agora, só pra você me achar legal e sair mais uma vez comigo e eu ter mais uma chance pra te conquistar. Dou a volta pra entrar no carro, mas antes de abrir a porta você fecha o pino por dentro e fica mostrando a língua pra mim pelo vidro – já notou a covinha que forma quando você faz isso? – enquanto eu só sorrio pra você.

Pra mim, amor pode até não ser isso, mas pra ser amor, tem que ter, principalmente, isso aí: simplicidade.

3 comentários:

  1. Gostei mesmo desse, muito bom, muito bom. Amor é uma palavra vaga demais para abranger tanta coisa, um sentimento muito pequeno se comparado às sensações estranhas, boas, ruins e indefiníveis de gostar de alguém. Sabe, estar junto, brigar, ficar com raiva, fazer as pazes... Porque nada disso está embutido em algo tão pequeno como essa tal palavra 'amor'.

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  2. "O amor... é mais do que uma palavra
    murmurada. O amor
    alimenta-se de gestos, da devoção que pomos nas coisas que fazemos pelo
    outro, todos os dias."

    Abraços
    http://sabordaletra.blogspot.com/

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